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asa de papel com chá

Apago as estrelas, já tão amarrotadas pelo traço da ilusão e no caminho da solidão, visto um pijama céu de jasmim. A minha vida é um desenho diluído em chá. Bebes? 

30.7.05

03:28 - Mãe, ensina-me a voar, sou uma borboleta tonta

Maggie Taylor

És tão bonita e eu gosto tanto de ti. Do teu cabelo branco, dos teus olhos pequeninos que sorriem às escondidas, do teu corar envergonhado e das tuas mãos doces, tão esguias, tão iguais às minhas. Se pudesse roubava-te toda para mim. Se pudesse era pequenina para poder caber debaixo da mesa e pedir-te um beijo. Para poder adormecer ao teu colo e ver televisão às escondidas por entre os buraquinhos do xaile verde com que me adormecias. Se pudesse era pequenina, para poder pousar a minha cabeça no teu colo e deixar as tuas mãos acariciarem-me as maçãs do rosto e afagarem-me os sonhos. Se pudesse, voava...
Mãe, conta-me a história da carochinha e ensina-me a voar, por favor. Mãe, sou pequenina, tenho muito medo.

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23.7.05

01:51 - Amo-te ainda com mãos verdes, as mãos que tu um dia plantaste.

Marc Chagall. Green Landscape. 1949
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21.7.05

04:24 - As aventuras da Dona Ermelinda

Joan Miró. Woman in Front of the Sun. 1950.
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A Dona Amélia, senhora forte, de peito avantajado e cabelo muito loiro, anda sempre muito arranjada, toda a condizer. Veste estampados coloridos e fatos de veludo e ás vezes, mas muito raramente, usa chapéu. Tem umas mãos meigas e uns olhos do tamanho do mar e costuma levar o neto à escola todos os dias. Despede-se sempre com dois beijinhos, enquanto recomenda carinhosamente:
- Porta-te bem meu filho, obedece à senhora professora e sê amigo dos teus colegas.
O neto, o Armandinho como nós lhe chamamos, é moreno, magrinho e com aspecto de rufia. Tem energia “para dar e vender”, ele é saltar muros, ele é fazer peões, ele é jogar à bola, ele é ir contra pinheiros, é uma aventura. É um rapaz cheio de genica. Um encanto de criança, tirando as vezes em que resolve ser despropositado. Eu até gosto do miúdo, mas que é precisa paciência, ai isso é.


Certo dia, ia eu a caminho do hospital, tratar das minhas cruzes, sim porque isto de se entrar na terceira idade tem que se lhe diga, quando me cruzei com a Dona Amélia, que se fazia acompanhar pelo neto. O Armandinho tinha ido tomar a vacina do tétano e parece que berrou que nem um desalmado.
- Ó Armandinho então choraste? – perguntei eu. Mas tu já és grande! Tão bonito a chorar...
- Ó Dona Ermelinda e se não me chateasse?! Vá mas é fazer o bigode que já se vê ao longe. E se pintasse o cabelo não lhe fazia mal nenhum. A minha avó é muito mais gira que a senhora.
Após alguns segundos, o tempo suficiente para me restabelecer do choque cruel que as palavras me causaram, respondi-lhe:
- Armandinho tens razão. Tenho mesmo de ir ao cabeleireiro.
- Ó Dona Ermelinda, e se comprasse uma roupinha colorida "ficava no ponto", é que o preto está fora de moda. Se quiser a minha avó ajuda, não é avó?
Coitada da avó, a Dona Amélia até parecia que ia desfalecer. Pálida e atordoada pediu-me mil desculpas, enquanto eu me despedia apressadamente, dizendo-me atrasada para a consulta que de facto ia ter.
Alguns dias depois deste incidente um tanto ao quanto embaraçoso, encontrei a Dona Amélia, que se desfez em desculpas:
- Sabe como é, os miúdos agora não têm educação. Eu bem digo à minha filha, mas não posso fazer nada...
- Ó Dona Amélia deixe lá isso, os miúdos são assim mesmo, dizem sempre as verdades.


E a verdade, é que depois da consulta das cruzes, fui ao cabeleireiro, pintei o cabelo de ruivo, fiz as sobrancelhas e tirei o bigode todinho, nem réstia de pêlo. A roupa, bem essa ainda não tive coragem de mudar. O meu Manel, que Deus o tenha, se calhar não ia gostar.

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19.7.05

02:38 - Tinha no peito três elefantes estampados, um era azul

Pablo Picasso. Nude Woman in a Red Armchair. 1932
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Esticou-se toda, de forma a não pisar o hall da entrada com os seus pés descalços. Sorriu, deu-lhe um beijo e murmurou envergonhada um gosto muito de ti. Ele desapareceu, levado para longe pelos seus passos torpes. Tinha no peito três elefantes estampados e nos olhos mil sonhos. Ela ficou. As mãos trémulas, separadas de um corpo pálido, fecharam a porta, enquanto a cabeça, que chorava sozinha, se quebrava em mil. Morreu naquele dia, nua, de uma melancolia doída e de uma tristeza crua que lhe degolou os sentidos. Hoje é um pássaro ferido, apaixonado por asas de papel. Sonha ainda cegonhas de outros mundos e adormece a contar elefantes: um elefante azul, dois elefantes azuis, três elefantes azuis...

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16.7.05

03:36 - O tempo morre em vão nas mãos de quem procura.

Georgia O'Keeffe. Ladder to the Moon. 1958.

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14.7.05

02:42 - Era uma vez uma mulher

Henri Matisse
ik...
Triste, permanecia naquele estado absurdo de nada, arrependida de tudo. Misturava o ranho do seu choro, na água com que lavava as lágrimas dos pés, e culpava-se até à morte, por não o ter podido amar. Absorta, surda e muda, já nada lhe importava.

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12.7.05

00:26 - Agripina mata-bichos (o momento de humor)

Wassily Kandinsky. Sky Blue


– Pai! Pai anda cá!
– Que queres?, dizia ele num tom de voz muito complacente, enquanto eu com o coração em polvorosa percorria a casa toda, na perseguição da sua voz, na procura das suas mãos grandes.
Quando finalmente o encontrava, entretido no tempo, sorria-lhe e levantava a cabecita, para o ver bem.
– Pai anda rápido, está uma centopeia no meu quarto.
Ele punha os óculos, dirija-se em passos firmes à despensa e dizia-me carinhosamente – Ora vamos lá ver isso – enquanto imponentemente agarrava na vassoura. Chegados ao quarto, nem tempo eu tinha de pestanejar, já estava o bicho morto. Estivesse ele escondido onde estivesse, o meu pai era rápido e de assaz eficiência, não lhe dando oportunidade de fuga. Eu de olhinhos brilhantes, maravilhada com a então mostra de coragem a que acabara de assistir, balbuciava eternecida um segredo ao seu ouvido - Obrigada paizinho, gosto muito de ti.
Hoje tenho à minha frente uma centopeia horripilante que não tenho coragem de matar e relembro com carinho o meu pai de vassoura na mão.

(Como posso eu adormecer com tamanha companhia?! Lá terei de recorrer à minha arma secreta, potentíssima e ultra eficaz, que para além do mais não deixa vestígios indesejados na parede tão branca do meu quarto. Sou eu ou ela! Vou aspirar a centopeia, assunto resolvido. Ao ataque Agripina!)
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9.7.05

03:23 - Subtraio-me, vejo as pessoas que vão e vêm

Mark Rothko. Red. 2000


Quero fugir. Quero sempre fugir mas nunca sei para onde. Amarfanho-me, encolho-me, engelho-me. Não caibo neste mundo e sobreviver nele dói, magoa-me a alma. Contorço-me. Queria não ser eu, talvez pintar-me de borboleta e morrer na falsa luz. Podia cobrir-me de mim e rasgar-me. Partir-me em pedaços e enviar-me por correio. Podia simplesmente voar, ganhar asas e sobrepujar o que sempre fui, o que nunca quis. Podia... tanto faz, só faz doer.
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6.7.05

02:10 - A história da Maria e do António

Joan Miró

A Maria era de uma formosura muito própria e de um rosado muito vermelho. Vendia pipocas quentinhas nos arraiais da freguesia e gelados na praia de Leça. O António tinha bigodes e uns olhos muito pequeninos. Era preguiçoso, mas quando chegava o calor lá ajudava o pai a vender batatas fritas pelo areal de Leça. - Olhá baaatatinhaa! – Já se ouvia ao longe.
A Maria tinha a pele quase tão coberta de pêlos como o António e ambos não tinham dentes, usavam uma placa um tanto ao quanto desajustada. Um dia cruzaram-se na praia, ele sorriu e ela corou. A data do casamento foi marcada, e a festa foi de arromba. Tiveram bailarico “à séria” e a primeira compra que fizeram, com o dinheiro da boda, foi a de uma motinha.
Às vezes ainda os encontro, perdidos pelas minhas memórias de Agripina.

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2.7.05

22:01 - Junto à janela dos lamentos

Woman in a Window (Marie-Thérèse). Pablo picasso. April 13, 1936.

Tenho saudades do teu corpo, do teu calor, do teu sabor. Vem. Espero-te ainda, ainda junto à janela dos lamentos. Sei de cor a tua paisagem, o teu rasgo de cor, o teu bater descompassado. Conheço de olhos fechados a tua música, o teu respirar cego, o teu toque volúvel que se dissipa em mel. Sei-te vivo em mim como seiva que me percorre e me alimenta. Caibo dentro dos teus olhos grandes e relembro-te por entre pingos de ternura. Desejo-te, nu, despido, cru.

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