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asa de papel com chá

Apago as estrelas, já tão amarrotadas pelo traço da ilusão e no caminho da solidão, visto um pijama céu de jasmim. A minha vida é um desenho diluído em chá. Bebes? 

29.9.05

12:06 - Tenho cinco anos, mas podia ter seis ou sete

Girl with a bee dress. Maggie Taylor. 2004.
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Tenho cinco anos e um copinho cor-de-rosa. Bochecho a boca com flúor e não consigo subir as meias sozinha.
- Mãe, sobe-me as meias! Mãe, dói-me a barriga! Mãe, olha o gafanhoto! - Tenho medo.
Tenho cinco anos, mas podia ter seis ou sete ou até vinte. Estou sentada num degrau das escadas. Choro. Tenho medo de um cão. Choro. Tenho medo das pessoas. Choro.
- Queres ser meu amigo?
Limpo o ranho às mangas do casaco, escondo-me. Sou um bicho sem nome. Vivo numa janela, com os pés assentes numa cadeira.
- Mãe! Vem dormir comigo. Diz-me baixinho que gostas de mim.

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25.9.05

00:22 - Ao que sabem os seus pés

Between the Pigeons and the Crows. Tina Turner.


Ele perguntou-lhe a cor dos seus pés. Ela respondeu silenciosamente que eram da cor da pedra. Ele percebeu e sorriu.
Ela gostava de andar descalça, de esfolar os pés e de os gastar, gostava de tocar o chão rugoso com as suas palmas e de sentir o caminho de uma outra forma, muito avessa. Ela gostava de pés que se podiam usar, vestir e calçar.
Ele respingou então que os seus pés sabiam a mar e podiam ser bebidos como água fresca. Que os seus pés tinham asas escondidas e segredos doridos.
Ela apaixonou-se.

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21.9.05

02:58 - Mulher número 8016537

Meditation. Alexei Jawlensky. 1912.
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Agosto. Respira-se um calor seco e ouvem-se trovões de um tempo longínquo. Chove.
8016537 pousa os braços mirrados no parapeito da janela e inclina o olhar em direcção ao cinzento do céu. Encolhe-se. Encolhe-se muito. Tem medo.
O branco da cozinha torna-se arroxeado e 8016537 fecha a janela num ápice. Dias houve, em que era bom ouvir trovejar. Dias, em que quem descobria no céu os primeiros raios, ganhava doces. Hoje tem medo. Hoje deixa-se assustar, como se fosse esse um sinónimo de estar viva, assustar-se...
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“ Tenho 51 anos. Solteira e de boa aparência. Procuro companheiro com vista em relacionamento sério. Inteligente e sensível, este não pode, impreterivelmente, ter medo de trovoada. Contacto: Mulher número 8016537, Rua dos sonhos esquecidos, Portugal”

“Mulher de 51 anos, morre incinerada, vítima de uma forte trovoada que assolou a sua janela. Amigos e familiares acusam o tempo e inconformados (...)”
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16.9.05

20:12 - As tuas asas, que são mãos em mim, sobrevoaram-me.

L'Air. Joan Miró. 1937.
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14.9.05

15:16 - A cidade é uma mulher escanzelada de olhos esbugalhados.

Unwound II. Diego Checo. 1999.
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A cidade é uma mulher triste de olhos sentados. É uma mulher esfomeada, surda de cansaço.
Sofre de uma dor sem fim, não segue o vento nem percorre o tempo. Reinventa ininterruptamente as mesmas ruas, as mesmas pessoas. Gasta os mesmos passeios, vomita os mesmos grunhidos.
Vítima de uma solidão adúltera, padece de uma promiscuidade seca. Estrangulada, sobrevive sem cor, alimentando-se de gemidos sem nome.
Veste-se de vermelho e asfixiada, morre de uma morte lenta.
A cidade é uma mulher escanzelada de olhos esbugalhados.
Depois há os passarinhos.

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11.9.05

21:19 - Trago-te um dia um sorriso.

Maybe never. Maggie Taylor. 1998.
..
..
...
.Os pés despidos sobre a mesa, as mãos pousadas no olhar, os cabelos caídos. / O sossego do vento. A memória ofegante. /- Amanhã parto. / Uma televisão muda, uma mulher surda. Um cenário escuro. / - Não fiques triste. Trago-te um dia um sorriso. / Um dia. Um dia ela não estava.

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8.9.05

19:19 - O chá da menina verde

Green Woman. Angela Olguin. 2002.
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O chá é sempre da mesma cor, umas vezes mais escuro, outras mais claro a deixar espreitar a outra margem do copo. O chá pode ser bebido a diversas temperaturas dependendo do gosto de cada um. A menina verde gosta de o beber a ferver, para assim poder sentir, tudo em si arder à sua passagem, para assim o poder sentir repousar bem na sua barriga amedrontada. Disseram-lhe que era estômago, mas enganaram-na. É na barriga que a menina verde o sente.

O chá, dependendo das suas propriedades, pode ser calmante ou estimulante, e por isso quando se bebe, seja a que hora for, pode adormecer ou fazer rir. Há quem fale no chá das cinco, mas a menina verde não sabe o que isso é, a mãe nunca lhe ensinou. A menina verde, só sabe que as folhas estranhas que a mãe secava no sótão amarelo, se transformavam em chá da avó. Durante muitos anos a menina verde não provou outro sabor. Agora delicia-se com muitos e diferentes chás, todos da mesma cor, umas vezes mais escuros, outras mais claros a deixar espreitar a outra margem do copo.
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A menina verde só ainda não conseguiu perceber para que serve o chá se Deus existe.

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6.9.05

20:08 - Escrevia tudo outra vez

Antonio Saura. El ángel de la buena muerte.
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O corpo nu. Magro, esquálido, esfomeado. O corpo nu, excessivamente nu, a passear-se na minha cama. A cabeça a doer. A doer-me muito. A chuva a cair.
Queria fumar. Queria afundar-me nesse corpo nu, tão vazio, tão insípido, tão irreconhecível. Nesse corpo que já não chama, que já não pede nem anseia. Nesse corpo que é o meu. Queria entranhar-me, embaralhar-me toda nele e ser minha. Eternamente da minha pele, do meu respirar apressado. Eternamente de mim. Escrevia tudo outra vez: as cores, os candeeiros, os sabores.

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