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asa de papel com chá

Apago as estrelas, já tão amarrotadas pelo traço da ilusão e no caminho da solidão, visto um pijama céu de jasmim. A minha vida é um desenho diluído em chá. Bebes? 

28.1.06

12:12 - Sobra-me o coração

Joe Sorren. Untitled.
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Já viste como as minhas mãos são grandes?! De que me servem, aqui sentada? Aqui, onde a vida passa devagar e a cabeça dói. Aqui, onde perco o olhar e o sorrir, onde emudeço de dor. Aqui.
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E o medo é vento. Pérfido e sibilante enleia-me num calor de mentiras, num halo onde redemoinhos de sentires se apossam do meu chapéu. Num halo onde uma contusão de dúvidas e angústias aflora.
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E do vestido suado um pedido latente, um pedido cansado. E da vontade de fugir, calos nos sapatos, e da vontade de voar, feridas sem cor. E dói. E dói. E dói. Emprestas-me os caracóis? Emprestas-me a boca grande para eu poder sorrir com ela?
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E ao fundo uma música… um eco de sonho e desejo, um fado triste.
As pernas rasgadas amainaram, e num porto sem destino, perdi as asas. Sobra-me o coração, sobra-me…

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21.1.06

11:15 - Pelas mãos da circunstância

Pablo Picasso. Portrait of Woman.
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O meu marido deixou-me, trocou-me há doze anos por uma solteirona de peito avantajado. Os meus filhos emigraram, partiram à procura de uma vida melhor. Vivo sozinha, com a minha máquina de costura. Companheira de longos anos, nunca me enganou. Por isso é com ela que faço amor, um amor de linhas e cores por onde me perco e agonizo. E é engraçado como me sinto um pedaço de tecido mutilado pela vida, como sangro a cada fio de linha que me penetra à força, como não passo de uma história bordada pelas mãos da circunstância.

O meu bisavô era rico, mas o meu avô quis casar com a minha avó e ele deserdou-o. Tenho primos juízes mas sou filha de carvoeiros. Sou pobre, mas muito limpa. Não ouço bem, tenho aparelho. Vivo com medo que caia. Vivo sempre com medo. Medo, medo, medo… À noite choro. É como rezar. As dores escorregam pelo rosto cansado até se perderem por entre os poros gastos das minhas rugas, até se perderem… Daqui a dez anos faço setenta anos, daqui a dez anos já posso morrer. Morro sem conhecer a felicidade como a minha mãe. Como a minha mãe que era carvoeira mas muito limpa. Às vezes jogo na lotaria, mas a sorte nunca sai. E eu espero, espero e torno a esperar até já não saber bem pelo quê. Até já não saber se a minha máquina de costura me sorri ou me suborna.

O meu marido deixou-me, trocou-me por uma solteirona de peito avantajado. Os meus filhos emigraram, vivo com uma máquina de costura, a quem pago o aluguer da casa e da vida. Na realidade sou sua escrava, dependo do óleo dos seus pedais, da força das minhas pernas que me fazem andar, andar, andar… Dependo das mãos da circunstância e é engraçado como me sinto um pedaço de tecido mutilado pela vida, como sangro a cada fio de linha que me penetra à força. E é engraçado como sofro em silêncio, como ninguém vê ou pressente a dor de ser existida. É engraçado.

Ah ahah ahahah ah ahah ahahah ahah. Ah ahah ahahah ah ahah ahahah ahah ah ahahah.

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17.1.06

00:52 - Às vezes acontecem cores de muitas cores


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Agripina Roxo. Cor. 2005.
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12.1.06

21:11 - Enquanto a saia dançava

Ray Caesar. Power and Glory.
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Ele gostava dela, gostava muito dela. Gostava de a ver de saia e de ficar parado a sorrir enquanto ela rodopiava, enquanto a saia dançava e o corpo era já a música de um toque.

Hoje ele encontrou-a, olhou-a ternamente, olhou-a como só ele a sabe olhar, olhou-a como só ela sabe que ele a olha. Aquela dor que aponta a culpa do adeus, aquela mágoa que ainda sussurra ao ouvido Meu Amor.

Ela tremeu, olhou o chão, não o queria ter visto. Hoje não. Não queria que a sua tristeza fosse descoberta e a sua solidão destapada. Não queria que ele lhe pressentisse na voz o arrependimento de um fim. Porquê?!

- Tens uns sapatos novos.
- Não são novos.
- São, são.
-Tu também, tens um cachecol novo.
- Sabes como é…

Ele continuou, triste, sozinho. Ela fugiu. Trazia as lágrimas bem atadas aos olhos para não fugirem e os pés envergonhados.

À noite, antes de endireitar a saia, ainda lhe disse:
- O casaco também é novo, fica-te bem. Estás tão magro, devias comer.
Mas ele não ouviu, já não estava lá, já não existia naquele quarto, naquela casa. Simplesmente já não existia…

Ela chorou. Lembrou-se do quanto ele gostava de a ver de saia, do quanto ele gostava de ficar parado a sorrir enquanto ela rodopiava, enquanto a saia dançava e o corpo era já a música de um toque.

- Em 2007 casamos?

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7.1.06

00:44 - Sua excelência, a morte.

Juan Miró. Portrait IV .


Gosto muito de esconder as orelhas. Escondo-as debaixo dos lençóis para poderem respirar o meu calor de pijama. No Inverno visto sempre pijama por causa do frio que é persistente e teima em bater-me à porta. Já lhe disse que não quero nada com ele mas ele insiste, insiste e torna a insistir. Que hei-de fazer?!
- Xô frio! Xô! Xô! Desaparece daqui!
No outro dia foi a morte que me veio visitar. Sorriu-me como a uma velha amiga mas eu não a tenho assim em tanta conta. Suporto-a é esta a palavra certa, suporto-a… Estava com um mau humor… sempre a refilar. Acho que se chateou com um corpo de pele e osso. Parece que ele teima em não sucumbir às suas vontades e ela claro, com aquele mau feitio que detesta ser contrariado, ficou possessa. Mas o que mais me incomoda nela é o seu cinismo, sempre a fazer-se de boa, a falsa… Eu bem sei que ás vezes ela é de grande utilidade, mas só as vezes. Comigo não tem hipótese. Sei bem que é uma frustrada, acha-se importante e coisa e tal, mas ninguém a suporta nem a quer por perto e ela lá vai fazendo das suas maldades para vingar a sua triste condição. E depois queixa-se do trabalho, que tem muito que fazer e que anda sem tempo para nada, muito menos para visitar os amigos, como se fizesse cá falta….
Chega de morte! Já estou a perder tempo de mais com sua excelência… Vou mas é esconder as minhas orelhas e deixar-me embalar pelo João-pestana que é sempre bem-vindo e nunca me chateia.
- Joãozinho! Que bom que apareceste. Trouxeste as flores?! Hoje quero sonhar com flores…

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3.1.06

22:31 - As minhas mãos são as conchas mudas do teu mar.

Joe Sorren. Fascia.
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