A vida percorre-me de medos. Percorre-me... Gasta-me os paralelos, entope-me as sarjetas, suja-me de lixo que ninguém vê e só eu sinto. Sou uma rua. Uma rua velha, dura, nua e crua. Quantas vezes usei eu, o dura, nua e crua?! Estou a ficar velha, repetitiva, cansada. Tremo! Tenho Alzheimer. Talvez Parkinson. Sou uma rua velha e suja que também treme. Um dia, quando já não for velha, contrato um advogado, abro um processo contra a vida e torno-me velha outra vez, outra vez com o sorriso que não me dão. Estou cansada. A vida percorre-me de medos. Gasta-me os paralelos, entope-me as sarjetas, suja-me de lixo que ninguém vê e só eu sinto. Sou uma rua. Uma rua velha, dura, nua e crua.
Estou velha...
Neste momento sinto-me o oposto!
Sinto-me uma praça nova, jardinada, cheia de gente a passear, a namorar, crianças a correr...
Sou uma praça, limpa, nova, desentupida!
Beijo cheio de mel.
eu às vezes sou uma árvore velha :-)
ok, tudo bem, tudo isso! mas como diria Botto, " em todas as ruas te perco, em todas as ruas te encontro!"
POEMA
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo a o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mário Cesariny de Vasconcelos
:) obrigada Knuque
tinha muitas saudades deste poema e recordá-lo deixou-me um sorriso de todas cores
Pois eu sou um campo...
Um calmo, longinquo, sereno, renovado, continuo campo!
Sinto-me um prado acolhido, confuso, por vezes, com suas flores mas tentando ser bonito na sua essência.
Em mim sinto corações palpitantes, refrescados de tranquilidade, enebriados de emoções... onde se brinca, corre, salta e se vive com extrema intensidade por jardins jamais percorridos.
No entanto espero nunca me sentir uma cidade...
Uma impetuosa, confusa, negra, desinteressada, apressada cidade!
Sentiria no ombro, olhares de trsiteza, de injustiça. No virar de cada esquina um sentimento de angustia, de medo em relação aos seus devaneios. Uma sujidade intrínseca em cada sarjeta. Uma majestade incrível na sua vaidade.
Carros, autocarros, taxis, camiões fazendo suas rotinas apressadas para a chegar a lado nenhum... a indiferença de olhares distinguem-se na sua teimosia do conhecimento.
É incorrígivel esta fuga intermínavel de nós mesmos!
Beijinhos e um resto de um óptimo fim-de-semana!
PS: Adorei este teu post sobre o sofrimento que se sente com o despertar para o envelhecimento.
uma rua (http://www.photoblink.com/quickgoldphoto.asp?ImageID=85) é sempre melhor que um beco sem saída (http://www.photoblink.com/fullView.asp?pic=images/c22/im/pb146827.jpg&w=562&h=800&bg=%23000).
temos mais liberdade para escolher onde colocar os pés (http://www.photoblink.com/fullView.asp?pic=images/c22/im/pb153744.jpg&w=688&h=529&bg=%23000). diverte-te em (http://photoblink.com/default.asp?cid=22)