Não sei dançar. Tenho peixes no meu quarto. A cara quebrada pelo frio e as mãos rugosas gastas pelos outros. Há muito tempo que queria escrever.Preciso de dançar e eu danço nas palavras. Os peixes também dançam. Dançam comigo uma dança torta entre paredes e palavras.
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Eu já fui um peixe (um peixe sobre o teu corpo) e já fui um sapo, agora não sou nada, vivo na ausência de todas as coisas. Um vazio acompanha-me o sono, e do sonho pálido costumam nascer jardins sem cor.
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O que importa são os peixes. Todos os peixes do mundo. Dos rios, dos lagos e dos mares. Das barragens e das albufeiras. O que importa mesmo são os peixes. O vazio também me preocupa mas tenho de comer. Há agriões. Apetece-me uma salada com tomate cherry e ananás. O ananás combina com tudo e os peixes não se importam.
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Eu já gostei de um contrabaixo que era peixes, e abraça-lo era perder-me em mim.
Mas era um amor impossível. Não percebia a cor das cordas ou o ressoar da alma. Nem sei se a alma ressoava, mas sei que os contrabaixos têm alma. Sei que os contrabaixos são apaixonados e ganham asas nos dedos. Eu nunca percebi muito bem o que ele me dizia. O meu dicionário eram as palavras, mas ele falava-me sempre em música, e eu não percebia. Eu nunca percebia nada.
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Acho que tenho fome. Acho que os meus peixes sabem dançar e que as palavras me ensinam música. Acho que fizeste bem em fugir. Sobram-me os peixes que sabem dançar. Acho que sabem e acho também que tenho fome. Fizeste bem.
Eu, sou em quem faço bem, em aqui vir. :)
Acho...acho que sabes dançar! E que tens melodia...nas palavras e na alma!
Beijo, Agripina!!!