Roadkill. Mia friedrich. Untitled.
Desde que morri, sei muito pouco sobre mim. Não sei se me sinto ou se me toco, se tenho ainda corpo. Desde que morri, acordar é doloroso. O dia deixa-se adivinhar numa luz tosca, num frio visceral que toma conta de mim e me adormece os sentidos. Um frio que me embriaga de solidão e me acompanha aos tropeções pela aridez da solidão.
E o que mais sinto na morte é o frio. O que me assusta na morte é o frio. O que eu nunca lhe perdoarei é o frio.
- Como se sorri? - grito.
- Como se sorri? Como se sorri? Como se sorri? - grito.
"Céu geralmente muito nublado. Períodos de chuva, temporariamente forte no Minho e Douro Litoral, passando gradualmente a regime de aguaceiros. Possibilidade de trovoadas na região Norte. Vento fraco a moderado (10 a 30 km/h) de sudoeste, tornando-se forte (35 a 55 km/h) com rajadas da ordem dos 80 km/h nas terras altas e rodando gradualmente para noroeste a partir da tarde. Neblina ou nevoeiro, dissipando-se durante a manhã."
3 colheres de açúcarcar:
A mim, assusta a frieza das pessoas perante a vida, o calor das atitudes, o sol nos olhos alheios.
Isso mata.
É uma forma de fazer tremer o frio na pele de dentro.
Intenso teu texto. Profundo. Tocante.
Um abraço.
Katyuscia.
A mim, tudo na morte me assusta. Às vezes a vida pode ser mais fria do que morte.
Este texto morde-me por dentro.
Para mim, que perdi há dias a minha mãe, é um texto muito doloroso de ler, o que só quer dizer que resulta de uma absorção funda da vida, como tudo o que escreves, aliás.
Bj