Paul Klee, Red Balloon, 1922
Sentada, absorta de uma realidade vã, perco a razão. Não quero mais nada. O brilho dos meus olhos esfumou-se no ar tépido desta cidade poluída de pesadelos. Não há sonho nem sentir. O espírito povoa-se de dor enquanto a desilusão se assola do meu eu. Caminho por paralelos soltos, tropeço na mais pequena formiga e desenho a muito custo um sorriso na minha cara triste. Só o esbocei. Estou cansada... o lápis pesa. Gostava de me diluir na chuva, penetrar a terra. Podia nascer em forma de flor, tão esférica que voasse como um balão até mais não e me levasse as penas para o amanhã longínquo. Não queria chorar, não queria cantar. Abria os braços como um pássaro a voar e atirava-me nua à terra. Estaria apenas a mergulhar, bem fundo, bem para dentro, tapar a minha cabeça, esconder-me de vergonhas. Dissecava depois o coração e com a força de um sopro abria um túnel até ao outro lado do mundo. Esquecer-me de quem sou.