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asa de papel com chá

Apago as estrelas, já tão amarrotadas pelo traço da ilusão e no caminho da solidão, visto um pijama céu de jasmim. A minha vida é um desenho diluído em chá. Bebes? 

13.2.14

18:07 - O tempo é um moinho.


Paul Klee, Red Balloon, 1922

Sentada, absorta de uma realidade vã, perco a razão. Não quero mais nada. O brilho dos meus olhos esfumou-se no ar tépido desta cidade poluída de pesadelos. Não há sonho nem sentir. O espírito povoa-se de dor enquanto a desilusão se assola do meu eu. Caminho por paralelos soltos, tropeço na mais pequena formiga e desenho a muito custo um sorriso na minha cara triste. Só o esbocei. Estou cansada... o lápis pesa. Gostava de me diluir na chuva, penetrar a terra. Podia nascer em forma de flor, tão esférica que voasse como um balão até mais não e me levasse as penas para o amanhã longínquo. Não queria chorar, não queria cantar. Abria os braços como um pássaro a voar e atirava-me nua à terra. Estaria apenas a mergulhar, bem fundo, bem para dentro, tapar a minha cabeça, esconder-me de vergonhas. Dissecava depois o coração e com a força de um sopro abria um túnel até ao outro lado do mundo. Esquecer-me de quem sou.

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18:06 - Uma terça-feira qualquer

Joan Miró. Head of a Man. 1935






Pedi um café cheio, como faço sempre que sinto a cabeça fugir. As pálpebras dos olhos pesavam-me, o rosto era subitamente invadido pela palidez do tempo. O Miguel pediu uma chamuça, lembro-me bem, ele tinha saudades de uma chamuça. O empregado comentou qualquer coisa sobre um jogo de futebol e eu reparei na senhora que lia com afinco encostada à parede. Entra um homem, baixo, porco, feio, de olhar vazio e corpo doente. Parecia poder morrer a cada instante. Aproxima-se das mesas, aborda as pessoas murmurando palavras roucas que ninguém quer ouvir. O empregado dá ordens de expulsão. A senhora que lia com afinco interpela-o e com um sorriso oferece parte da sua torrada àquele homem porco, feio, de olhar vazio e corpo doente. Esse homem porco, feio, de olhar vazio e corpo doente vai finalmente embora. De cabeça baixa, leva numa mão a torrada e na outra, o telemóvel da senhora. .

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