Joan Miró. Head of a Man. 1935
Pedi um café cheio, como faço sempre que sinto a cabeça fugir. As pálpebras dos olhos pesavam-me, o rosto era subitamente invadido pela palidez do tempo. O Miguel pediu uma chamuça, lembro-me bem, ele tinha saudades de uma chamuça. O empregado comentou qualquer coisa sobre um jogo de futebol e eu reparei na senhora que lia com afinco encostada à parede. Entra um homem, baixo, porco, feio, de olhar vazio e corpo doente. Parecia poder morrer a cada instante. Aproxima-se das mesas, aborda as pessoas murmurando palavras roucas que ninguém quer ouvir. O empregado dá ordens de expulsão. A senhora que lia com afinco interpela-o e com um sorriso oferece parte da sua torrada àquele homem porco, feio, de olhar vazio e corpo doente. Esse homem porco, feio, de olhar vazio e corpo doente vai finalmente embora. De cabeça baixa, leva numa mão a torrada e na outra, o telemóvel da senhora. .
4 colheres de açúcarcar:
Abelhinha
Porco, pobre, feio e mal agradecido.
Beijinho
joãoGonçalo
dá que pensar..
NÃO SOU CONTRA O CAFÉ CHEIO
não sou contra a saudade da chamuça
não sou contra o jogo futebol
nem tão pouco contra a leitura
mas sou responsável pela sociedade de HOMENS, Feios, Porcos e Maus que deambulam pela cidade.
não quero que eles peguem fogo à cidade
não quero que eles roubem o telemóvel
mas também não gosto que eles levem a torrada
gostava de acabar com o desaparecimento da fome e da insegurança, pelo menos na minha cidade, mas não sei como faze-lo
não sei, sequer, por onde começar
também saio de cabeça baixa
deixo a torrada, deixo o telemóvel
saio sem ser capaz de sorrir!!!
Agripina Roxo
esta história é real, eu assisti até ao momento da torrada. uma semana depois o mesmo homem roubou o meu telemovel... eu retornei aquele café na esperança de saber algo sobre ele e o que soube foi o final da história :(
e o que fazer?!