26.2.06
22:52 - E do borboto da tua meia, nasceu uma borboleta.
23.2.06
12:53 - E de repente é Outono

Ela falava sozinha e ria, ria muito. Tinha as mãos cobertas de anéis, e o saco repleto de rosas a despontar e falava sozinha e ria, ria muito. Os cabelos eram de um branco sujo e as mãos enrugadas. Os pés, esses, eram pequeninos e repousavam encaixados um sobre o outro. E ela ria, e eu gostava de a ver rir, de a ver sorrir e gesticular, assim sozinha, assim para nada e para ninguém.
- Estás perdoado – dizia – Estás perdoado… – enquanto a sua mão tremia e os seus olhos se embaciavam. - Estás perdoado… – repetia, enquanto o chá desaparecia dentro de si e os olhos de todos a perseguiam.
E eu quis ser louca, tão louca como ela, e como ela, não ver, não ouvir, abstrair-me de todos e de tudo, até do tempo. E eu quis perdoar, como ela. E eu quis… e de repente deixei de rir, deixei de gostar de a ver rir e gesticular, assim sozinha, assim para nada e para ninguém. E de repente é Outono e as folhas que caem contam-me histórias que eu não vivi.
Às vezes consigo pensar que a loucura é um caminho fácil de sobrevivência. Não sei…
13.2.06
23:53 - Um passarinho sobre o teu corpo.

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Reconhecer-te a cor, o cheiro, as mãos pousadas na dança côncava dos teus dedos, na dança côncava das minhas curvas e contracurvas. E saber-te meu, um dia meu, um dia todo meu. E deixar as línguas passearem-se de mão dada, e deixar os dedos entrelaçarem-se por entre entranhas de nós, de mar, amar e seiva. E deixar, tão simplesmente deixar, de nos pertencer.
- Ganhei asas meu amor. Ganhei as asas que tu me deste e agora sou um passarinho. Um passarinho sobre o teu corpo...
- Ganhei asas meu amor. Ganhei as asas que tu me deste e agora sou um passarinho. Um passarinho sobre o teu corpo...
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10.2.06
15:35 - Quando for grande quero ser assim.

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7.2.06
23:11 - E da senhora com lábios cor de guarda-chuva, já te disse?!
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Gosto da tua dança diagonal e do teu contorcer que sorri a cada curva. Gosto da tua boca grande, muito grande, que te rasga a face e me engole os medos. Gosto dos teus caracóis que transportam os segredos do vento, dos teus cachecóis, das camisolas e das cores.
Gosto de ti, mesmo que não te consiga olhar os olhos, mesmo que estejas pálido e eu fale demais; mesmo que te rias do meu rir…
Gosto de ti, e das tuas mãos, e da tua dança, e do teu contorcer, e da tua boca e dos teus caracóis e…
Já te disse que gosto das tuas mãos?! E do sol a dois, já te disse?!
Gosto de ti, mesmo que não te consiga olhar os olhos, mesmo que estejas pálido e eu fale demais; mesmo que te rias do meu rir…
Gosto de ti, e das tuas mãos, e da tua dança, e do teu contorcer, e da tua boca e dos teus caracóis e…
Já te disse que gosto das tuas mãos?! E do sol a dois, já te disse?!
Gosto do sol a dois e da senhora de cabelos brancos que tem um guarda-chuva vermelho e da senhora de cabelos brancos que se deixa tocar pelas pombas afogueadas e da senhora de cabelos brancos com mãos de alfinete.
Já te disse que gosto de ti?! E da senhora de cabelos brancos com lábios cor de guarda-chuva?! E do sol a dois, já te disse?!
Gosto do sol a dois...
1.2.06
21:22 - Com vontade de rasgar o céu da boca.
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